Advogado e autor de “Mapa- Múndi da Justiça”, Rui Patrício escreve sobre os problemas da justiça e “sobretudo sobre os discursos dos problemas da justiça”.
Está habituado às câmaras. As luzes, essas, não lhe ofuscam o pensamento. Aqui, ali ou mesmo acolá, Rui Patrício, autor de "Mapa-Múndi da Justiça em bilhete-postal" diz sempre o que pensa. Mesmo que os outros não gostem (pelo menos é conhecido por isso).
Com 40 anos, este docente universitário e autor de vários livros e artigos nas áreas de direito penal e processual é hoje um dos advogados do momento. Isto porque adquiriu um grande mediatismo em três casos. Entre eles é advogado de José Penedos no caso "Face Oculta"; está ainda envolvido na "Operação Furacão" e ainda no processo do norte-americano naturalizado português George Wright. Uma roda que é viva tal como o mapa-múndi; e que é rígida ao ponto de Rui Patrício, que já foi membro do Conselho Superior da Magistratura, ser já apelidado de advogado de "barra".
Em entrevista (que pode ser vista na íntegra no programa "Ideias em Estante" no ETV), Rui Patrício fala sem tabus sobre a Justiça, sobre o mediatismo da advocacia, sobre o poder de poder dizer "Não", sobre os crimes económicos e sobre os desafios que a Justiça tem pela frente. Tudo isto tendo como linha-mestra uma conversa em torno do seu mais recente livro. Uma obra que une duas paixões: a justiça e as viagens.
Uma dupla que levou Patrício a procurar "através de um registo que concilia a crónica sobre a justiça e a crónica de viagem dizer alguma coisa sobre "os problemas da justiça e sobretudo sobre os discursos dos problemas da justiça".
É este um manifesto contra o queixume?
"É essencialmente um manifesto contra a lamentação. Não é um lamento. É um manifesto contra a lamentação e acontece essencialmente por três razões. Uma porque há um certo ambiente, de há uns anos a esta parte, de algum pessimismo, de alguma descrença relativamente às Instituições, e isso atingiu também a Justiça; em segundo lugar, porque é tradicional dos portugueses dizerem mal das suas coisas - dizerem mal de si mesmos. E em terceiro lugar, porque a Justiça se tornou um assunto mediático por excelência. Um assunto que é comentado, noticiado, escrutinado e discutido até ao limite; e sobre o qual toda a gente opina. Acho que a conjugação desses três factores faz com que se fale muito da justiça e normalmente se fale num tom negativo. E o facto de se falar sempre num tom negativo tem, a meu ver, um efeito negativo e eu quis, de alguma forma, reagir contra isso."
Como encara o facto de os advogados serem, muitas vezes, protagonistas dos casos?
Esse é um tema muito interessante e ao mesmo tempo muito delicado. Encaro, acima de tudo, como uma inevitabilidade. A deontologia profissional continua a impedir que, em regra, o advogado fale sobre os casos em que está envolvido. Eu acho que essa regra é na sua pureza uma regra boa. Mas, como em todas as regras, alguma coisa tem que ser adaptada à realidade. Hoje em dia é muito difícil, em certos casos, o advogado remeter-se ao silêncio. Sobretudo em defesa do seu constituinte. É muito bonito e certo afirmar que o advogado não deve falar. Mas perante as câmaras, à saída de uma sala de audiências, com perguntas que muitas vezes podem pôr em causa a reputação, o "bom nome", a realidade pessoal e familiar do cliente, é muito difícil não dizer alguma coisa. Eu até diria que, às vezes, é preciso dizer alguma coisa". Está dito. E o mundo semi-percorrido através de um bilhete-postal onde a tão desejada Justiça ocupa o lugar central.