O que é que vimos esta noite? Vimos um Primeiro – Ministro que se preparou, no limite mínimo, para um exame de Macroeconomia; e, no limite máximo, para um Phd autenticado pela Troika.
A entrevista desta noite ao Primeiro– Ministro Pedro Passos Coelho, transmitida pela TVI e conduzida por Judite de Sousa, não podia ser mais académica. Apesar do crescente interesse, por parte dos cidadãos, por temas económicos, o certo é que nem todos estão familiarizados com a linguagem técnica desta ciência. Aliás poucos, sobretudo os que se encontram de bolsos vazios, terão, advinha-se, paciência para tentar entender essa ciência.
As pessoas querem respostas práticas. Querem acção. Querem saber se os sacrifícios que lhes estão a ser pedidos valerão, no final, a pena.
Vamos nos nivelar por baixo? Não. Mas é necessário que exista discernimento para comunicar, com a maioria da população, em linguagem não especializada.
O que é que vimos esta noite? Vimos um Primeiro – Ministro que se preparou, no limite mínimo, para um exame de Macroeconomia; e, no limite máximo, para um Phd autenticado pela Troika. O que é que os portugueses querem escutar? Os portugueses querem escutar soluções. E querem, sim, ouvir falar de economia – sobretudo de crescimento económico - mas sem grandes teorias e sem recurso ao enfadonho econometrês (please…).
Sobre o real, sobre a economia real, sobre como vamos crescer? Como vamos dar a volta por cima? Em que sectores vamos apostar? Sobre tudo isso… poucas palavras (para não escrever de forma drástica: nenhuma).
Judite ainda tentou… mas Coelho fugiu que nem uma lebre.
Falou-se de défice, de receitas, de impostos…. Mas não de geração de novos negócios, de novas “economias”, que dão emprego e levam à criação de riqueza. Pior: não se falou sobre como terão as empresas “lugar” para serem os chamados players que – e segundo advoga o Primeiro Ministro -, nos vão tirar do fundo do poço. O Primeiro - Ministro falou de facto dos players, do ideal neo-liberal de participação das empresas na geração de riqueza, mas não falou de como é que essas mesmas empresas se sentirão incentivadas a ficar cá e a investir neste País.
Depois do jantar, em que a preocupação é latente, seria de esperar uma mensagem mais esclarecedora sobre o que está a ser feito para ultrapassarmos este momento.
O resultado: estou a Kompensan…
Ponto positivo:
Seguro, estava sem dúvida.
Pedro, o Primeiro-Ministro que esta noite pediu emprestado o sobrenome ao seu adversário socialista, entrou para falar. E falou. Infelizmente - apesar de ter sido a noite do adjectivo “seguro” - não me deixou descansada. Porquê? Porque vi um Primeiro-Ministro que estudou a lição (isso sem dúvida) de um manual económico. Mas pouco mais do que isso. Aliás por momentos pensei que estava a escutar um Professor de economia. Não um Primeiro-Ministro. Até cheguei a pensar que teve umas aulinhas com o professor Álvaro Santos Pereira antes da entrevista. Mas parece que não. Talvez tenha falado com Vítor Gaspar, com “o que decide”. Qui ça? No lo sei! Ich weiß nicht!. O certo é que em qualquer que seja a língua, que interessa agradar, a mensagem necessária neste momento não passou. E não falo de uma mensagem de optimismo. Não é a isso que me refiro. Refiro-me sim a uma mensagem clara que nos diga onde estamos e para onde vamos? Falo de uma mensagem que tire dúvidas sobre “os medos” de nos estarmos a enterrar – ao invés de estarmos a “traçar um caminho para o crescimento”.
(e, no meio de tudo isto, até já os troikanos admitem que austeridade “a mais” não é desejável….)
Sou das que acredita nas boas intenções da maioria dos membros deste Governo. Entendo, também, que não seja fácil comandar o barco neste momento. Mas desejava muito, muito, escutar uma palavra de um comandante que não tendo certezas, afinal ninguém as tem, tenha pelo menos uma coisa em mente: vamos crescer e vamos ´implementar´ não só medidas de austeridade, que são necessárias, mas sobretudo `vamos apostar nas medidas que permitem crescer´.
"D'Artagnan e os (troikanos) três Mosqueteiros"
Como gritam, de forma aspiracional, algumas crianças deste Portugal, “ um por todos e todos por um”. E é nessa máxima que é necessário acreditar. E se na ficção o D'Artagnan é o herói; na realidade a crise é o inimigo. E nesta belíssima história até os três mosqueteiros (troikanos) cá cantam. A letra não é seguramente a mesma, mas o objectivo de atingir “o bem” parece comum. O pior é que não basta parecer é necessário ser. E hoje, mais do que nunca, é necessário acreditar e confiar. E para tal os portugueses têm que estar informados sobre qual é a estratégia do Governo para ultrapassarmos esta crise. Qual é? Em que vamos apostar? Como vamos ser competitivos? Quais os factores de diferenciação deste País? Onde estão os factos que fazem acreditar? Onde estão….? Onde estão os dados reais que dão um rasgo de confiança aos jovens? E que dão uma palavra de alento aos pais que, amanhã de manhã ao acordarem, pensarão se valerá a pena ensinar os filhos a máxima que está por detrás da adaptação fiel do romance de Alexandre Dumas, “ Os três mosqueteiros”. Um romance onde a palavra de ordem é a confiança.
Ah: “Nunca posso jurar que não sejam precisas mais medidas de austeridade” foi a frase da noite!