Maria Filomena Mónica é a autora de " A Morte", ensaio da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que pode comprar, hoje, com o Diário Económico por mais 2,4 euros.
Leia neste espaço "Três perguntas à autora".
Ninguém escolhe “Nascer”. Escolher “Morrer” deverá ser uma opção? Porquê?
Porque faz parte dos meus direitos. Sou eu que morro, não os médicos que me tratam, nem os juristas que fazem leis nem sequer os membros da minha família. Se, devido à iminência da perda de raciocínio ou perante dores insuportáveis, tiver de escolher a minha morte, quero poder solicitar auxílio a fim de concretizar a decisão. Embora, em Portugal, isto nem sempre seja reconhecido, os que não professam uma crença religiosa, como é o meu caso, também se regem por normas éticas. Gostaria assim de citar as belas linhas do Eclesiastes, 3: «Todas as coisas têm o seu tempo e tudo o que existe debaixo dos céus tem a sua hora. Há tempo para nascer e tempo para morrer; tempo para plantar e tempo para se arrancar o que se plantou; tempo para matar e tempo para dar vida;…». Repare-se na frase: «tempo para matar»…..
O que mais a assusta quando se fala em “Morte”?
A loucura senil. Foi por isso que, ainda antes de ter sido aprovada a recente lei nº 25/2012, publicada no «Diário da República» de 16 de Julho, escrevi um «testamento vital». Este documento é referido no texto legal como « Directiva Antecipada de Vontade» ou DAV – muito gostam os meus compatriotas de acrónimos – mas o título pouco me importa, desde que a possibilidade exista. No fundo, quero evitar àqueles que amo o sofrimento por que passei durante a doença de Alzheimer da minha mãe.
Como relaciona “Velhice” com “Dependência” e com “Opções” ?
Infelizmente, a velhice não é uma opção. Se pudesse escolher, teria ficado aí nos 50 anos. Não o podendo fazer, procuro observar a passagem do tempo com dignidade. A leitura do De Senectude, de Cícero, e a audição de música clássica – acima de tudo Schubert – oferecem-me algum consolo. Como tenho vindo a comprovar, a velhice é uma maçada, mas espero poder ser independente ainda durante mais alguns anos. Depois, virá o «medonho mudo», como o meu poeta preferido, Cesário Verde, designava a morte.