"Portugal: os Números", de Maria João Valente Rosa e Paulo Chita, é o livro, hoje, em destaque no Diário Económico.
De notar que poderá, hoje, adquirir esta obra com o DE, por mais 2,4 euros.
Fique com as "três perguntas aos autores":
Quais os números mais marcantes da nossa sociedade?
O nosso país em nada se assemelha, hoje, ao que foi nos últimos 50 anos, o período analisado no ensaio Portugal: Os Números.
A população envelheceu a um ritmo sem precedentes. Tornámo-nos um dos países mais envelhecidos do mundo, resultado de uma intensa diminuição da fecundidade dos casais, do aumento da esperança média de vida e de uma emigração particularmente intensa, em especial nas idades activas mais jovens, também elas mais férteis. A família, ou melhor, as famílias adquiriram novos contornos, o casamento foi perdendo o seu papel de regulador dos nascimentos e tornou-se menos duradouro.
Escolher os números mais marcantes não é tarefa fácil, pois qualquer deles espelha um pouco da complexa trajectória da sociedade portuguesa nas últimas décadas. Nas mais diversas áreas, Portugal não teve uma evolução linear e unidireccional. Tem sido um país a dois tempos, com áreas que são exemplos mais bem sucedidos – como a qualificação escolar (embora esta se situe ainda muito aquém do nível atingido noutros países) ou a generalização do acesso à protecção social a grupos que durante muito tempo dela estiveram excluídos –, e outras menos bem sucedidas – como a justiça (a morosidade com que os processos são decididos tornou-se crítica) ou a economia (até 1974, o PIB português cresceu a uma boa velocidade mas não havia liberdade; após 1975, em democracia, entramos numa fase de altos e baixos e o crescimento desacelerou ou estagnou, sobretudo depois da adesão ao Euro).
Onde entra o fator humano nas estatísticas?
As estatísticas são os números mais humanos que conhecemos. São a expressão dos comportamentos e das características de todos: as pessoas dão origem às estatísticas e não o contrário! As estatísticas reproduzem realidades colectivas não percepcionadas de outro modo, abrindo espaço para o conhecimento, capacidade também ela humana. As estatísticas ajudam-nos a conhecer melhor o que somos como sociedade e também a compreender os nossos comportamentos como indivíduos. E às vezes têm erros. Mas como errare humanum est, na verdade não podiam ser mais humanas...
Pode um país ser orientado só para os números?
Longe vai o tempo em que os teorizadores ou pensadores da realidade social se baseavam nas suas reflexões de sofá. É tão impensável uma interpretação sem confrontação com os factos (traduzidos pelos números), como é impensável defender que a informação quantitativa pode valer por si e prescindir de análise teórica.
Felizmente, os únicos casos de negação ou de desprezo face aos números provêm, hoje, de situações tão lamentáveis quanto raras: os dirigentes, pertencentes normalmente a regimes ditatoriais – mas não só –, que escondem números para iludir a opinião. Juntemos-lhe os casos dos indivíduos que desdenham a informação quantitativa com base numa ignorância básica de Estatística, ou seja, por não a saberem analisar e compreender.