"O turismo (que é o maior sector exportador nacional de bens e serviços) é subestimado"
Sendo o maior sector exportador nacional de bens e serviços, o turismo é subestimado pela política. O alerta é de Vítor Neto, autor de "Portugal Turismo - Relatório Urgente".
Sabia que o turismo é o principal sector exportador de bens e serviços de Portugal? Que representa cerca de 14% das exportações - ou, dito de outra forma, soma receitas externas de 8,6 mil milhões de euros, segundo dados do Banco de Portugal relativos a 2012? Saberá ainda que este sector representa 10% do Produto Interno Bruto (PIB) e 8% do emprego no país? São muitos dados, muitos factos. Mas apenas uma realidade: "Existe uma subestimação económica do turismo em Portugal". Quem o afirma é Vítor Neto, autor de "Portugal Turismo - Relatório Urgente", livro onde o sector é retratado em números. Na entrevista ao programa "Ideias em Estante", no Etv, o autor aponta as falhas e os caminhos com potencial, para que esta actividade se liberte da estagnação que viveu na década de 2000-2010 .
Estando há muito ligado ao sector - chegou a secretário de Estado do Turismo entre 1997 e 2002 -, Vítor Neto sente que tem legitimidade para afirmar que "existe subestimação, a nível institucional, sobre a importância económica do turismo". Afinal, esteve cinco anos no Governo, "passou" por quatro ministros da Economia e mais cinco das Finanças. Uma série de números que o leva a garantir que conhece "as sensibilidades do tema". O ex-secretário de Estado, que é também empresário e gestor, vai mais longe e afirma que "essa é uma batalha ideológica". Este livro propõe-se, assim, a contribuir para essa batalha".
Sobre as expectativas dos empresários, o autor - que é também presidente do NERA ( Associação Empresarial do Algarve) e de outras instituições ligadas ao sector (ver perfil ao lado), adianta que os empresários "estão conscientes das potencialidades do sector. Há preocupação, mas não há descrença". Alerta, contudo, que apesar de o turismo estar vivo, há necessidade de se "combater as ilusões criadas".
E o que falhou? Coisas cruciais. Vítor Neto enumera algumas. "Em Portugal houve uma estratégia de turismo errada." Não existiu um entendimento da natureza e das consequências estruturais que estavam a acontecer no sector. Não se incorporaram as mudanças estruturais e houve um esquecimento das potencialidades reais do país. "Deu-se prioridade, por exemplo, aos grandes empreendimentos imobiliários", afirma Vítor Neto, considerando que isso levou à ilusão de que esses investimentos iriam puxar pelo turismo.
A nível mundial, escreve o autor, "assistiu-se a um crescimento de 266 milhões de turistas, isto é, de 40%. No seguimento de um crescimento de 239 milhões na década anterior. Em 20 anos, um crescimento de 116%. A nível da Europa, o maior destino turístico do mundo, o crescimento entre 2000 e 2010 foi de 90 milhões de turistas, ou seja, 23%. A Europa cresceu 213 milhões de turistas estrangeiros entre 1990 e 2010, mais de 80%. É significativo que a Turquia, entre 2000 e 2010, tenha crescido 181% e a Croácia 77%. A Espanha atingiu 56,7 milhões de turistas em 2011, um crescimento de 22% em relação a 2000. E a Grécia, com 15 milhões de turistas, teve um crescimento de 15% entre 2000 e 2010."
E Portugal? "Entre 2000 e 2010, as entradas de turistas estrangeiros em Portugal terão caído de 12 para 11 milhões. Portugal terá perdido nesse período um milhão de turistas estrangeiros, isto é, cerca de 8%." Em termos comparativos, "a própria França e Itália, 1º e 5º destinos mundiais, que representam cerca de 25% do turismo da Europa, cresceram sete milhões de turistas no mesmo período". Como refere Vítor Neto, "não basta "corrigir" os objectivos, propor metas menos ambiciosas, procurar novos mercados e proclamar que a prioridade é 'vender! Vender!'… Impõe-se uma estratégia coerente assente numa visão realista."
Vítor Neto
Natural do Algarve, foi Secretário de Estado do Turismo de 1997 a 2002. Empresário e gestor, preside à comissão organizadora da BTL, é presidente do NERA, vice-presidente da AIP e membro da direcção da CIP-CEP. É ainda cônsul honorário de Itália no Algarve.
(In Ideias em Estante, 12/04/2013, Diário Económico)