Sexta-feira, 5 de Julho de 2013

Autor chama os "boys pelos nomes"

 "Tem de se combater a corrupção para combater a crise"

 

Será que os portugueses andaram mesmo a gastar mais do que deviam? Paulo de Morais, autor que "chama os «boys» pelos nomes", defende que essa não é a causa da crise.  

 

Existem duas mentiras colossais que contaminam a sociedade portuguesa: "a de que os portugueses andaram a gastar acima das suas possibilidades e a de que não há alternativa à austeridade", afirma Paulo de Morais, autor do livro "Da Corrupção à Crise" (editado pela Gradiva), que ontem foi apresentado, em Lisboa, por Maria José Morgado, dois dias depois de ter sido apresentado, no Porto, por António Marinho Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados.

Em conversa com o Económico, Paulo de Morais demonstra que não tem papas na língua e afirma que resolveu escrever este livro por considerar que tinha de "apresentar aquela que é, no meu entender, a principal causa que nos trouxe à crise": a corrupção. "Depois há duas razões de âmbitos diferentes". São elas, descreve, "combater uma mentira sistemática que há na sociedade portuguesa e que tenta convencer-nos de que os portugueses andaram a gastar acima das suas possibilidades - e que, por essa via, terão de espiar esse pecado (do gasto excessivo) com austeridade." Para Paulo de Morais, "quer uma, quer outra são os maiores embustes que há na sociedade portuguesa", afirma o autor que é vice-presidente da Associação Cívica Transparência e Integridade.

Como o autor explica, Portugal está numa posição muito débil no que respeita ao 'ranking' da transparência, ocupando o 33º lugar do 'ranking' da transparência que "elenca os países em função da sua capacidade de se libertarem do fenómeno de corrupção". Ainda mais preocupante é o facto de Portugal ter caído nessa lista do 23º lugar, em 2000, para 32º em 2010. Por outras palavras, "Portugal obteve, nesta década, o vergonhoso título de campeão mundial do aumento da corrupção".

Portugueses reféns do medo?

Por tudo isto, Paulo de Morais ambiciona que este livro represente uma espécie de combate à mentira e ao medo. "Hoje a sociedade portuguesa é uma sociedade em que as pessoas vivem com medo, vivem - algumas delas - em pânico, com medo de perder o emprego, de perder a sua estabilidade".

Mais: "Há uma imprevisibilidade total e é esse medo que faz com que se acabe por sussurrar nos cafés aquilo que se tem medo de afirmar em voz alta. E este livro pretende afirmar em voz alta aquilo que muita gente sussurra nos cafés e às escondidas", conclui. E que é isso? "A corrupção tomou conta da vida política e da administração portuguesa" e, como tal, "tem de se combater a corrupção para se combater a crise", remata.

O livro agora editado pela Gradiva, que aponta uma série de culpados - entre eles alguns grupos económicos e sociedades de advogados -, apresenta de forma frontal um país que está a empobrecer. Isto porque a promiscuidade entre a política e os negócios está a aumentar, alerta o autor que não nega que, neste livro, "chamam-se os bois - ou os boys, se quiser - pelos nomes".

E ninguém lhe escapa. De governantes a empresas e grandes projectos, passando por sociedade de advogados, todos são apontados como responsáveis pelo actual estado do país. " Os casos de corrupção sucederam-se ao longo das últimas duas décadas", escreve. Exemplos?: Expo'98, Euro'2004, Banco Português de Negócios, Parcerias Público-Privadas são apenas alguns desses "casos". Para ajudar o leitor, o autor separou os temas em sete capítulos: 1) da corrupção à crise; 2) uma administração central... de negócios; 3) o Poder local democrático... mas pouco; 4) promiscuidades; 5) um povo entre a espada e a parede; 6) chamem a política; e 7) a saída da crise. A última mensagem do lilvro, escrita no capítulo dedicado à saída da crise, pode ser interpretado como um apelo a "não ao medo".

"Os governantes de que hoje necessitamos são os que consigam enfrentar, sem medo, os actuais poderes fáticos que empobrecem o país e preservam uma estrutura económica e política do tipo feudal", escreve o autor que conclui a obra com uma interrogação: "Haverá na vida pública nacional corajosos que queiram calar o medo e trilhar este caminho?".

 

Da Corrupção à Crise - Que Fazer?

de Paulo de Morais Editora: Gradiva (148 páginas) Preço: 11 euros

O autor, Paulo de Morais, é vice-presidente da Associação Cívica Transparência e Integridade.

Licenciado em Matemática, Paulo de Morais tem um MBA em Comércio Internacional e é doutorado em Engenharia e Gestão Industrial.

 

 

IDEIAS EM ESTANTE por Mafalda de Avelar ( publicado dia 31/05/2013 no Diário Económico)

 

 

 

publicado por livrosemanias às 18:07
link | comentar | favorito

pesquisar

 

Maio 2014

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9
10

11
12
13
14
16
17

18
19
20
21
22
23
24

25
26
27
28
29
30
31


posts recentes

Homenagem ao Professor Ve...

Sócrates perde para Astér...

'Jogadas' com Blatter e o...

Ondjaki vence Prémio Lite...

Moçambique, Astérix, cris...

Biblioteca de Papel no CC...

Gomes Ferreira continua a...

MBA júnior, inteligência ...

Sócrates, Soares e Lula ...

" O meu programa de Gover...

arquivos

Maio 2014

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

blogs SAPO

subscrever feeds