Entrevista Pedro Adão e Silva autor do livro "E agora?".
Obra aborda a crise do euro, as falsas reformas e o futuro de Portugal.
"Ideias em Estante" de 2 de Julho de 2013
IDEIAS EM ESTANTE por Mafalda de Avelar
Data: 28/06/2013
Publicação: DIÁRIO ECONÓMICO
"O futuro de Portugal passa por uma mudança da política interna"
O SOCIÓLOGO LANÇA QUESTÕES SOBRE O FUTURO DO PAÍS E DA EUROPA. E ADIANTA ALGUMAS RESPOSTAS, QUE PASSAM POR NOVAS POLÍTICAS, MAIOR PODER DE NEGOCIAÇÃO E ESTABILIDADE.
Acrise do euro, as falsas reformas e o futuro de Portugal são os temas que compõem o subtítulo da recém-lançada obra do sociólogo Pedro Adão e Silva, apresentada pelo presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, e pelo jornalista Nicolau Santos, na passada quarta-feira, em Lisboa. "E agora?" é a questão que impera no actual momento e que dá o título ao livro, que pode ser, no limite, também entendido como uma mensagem política. Não só para o Governo, mas também para a oposição.
Em entrevista - que pode ser vista no programa 'Ideias em Estante', no Etv -, Pedro Adão e Silva afirma que "os políticos têm a ilusão de que é muito importante deixar marcas" e, por isso, querem fazer as suas próprias reformas estruturais, "querem mudar tudo em seis meses ". O comentador e analista político afirma ainda que "o euro é um projecto com uma arquitectura coxa. Falta-lhe uma parte" e refere que Portugal para ter futuro tem de restruturar a dívida e criar uma coligação política para alterar as condições da participação de Portugal no euro e na Europa. Opiniões que pode começar a ler na entrevista que se segue.
E agora?
A situação em que estamos não é nada fácil e eu diria que a resposta imediata a essa pergunta é que temos de aprender com o passado. Este livro é, por um lado, um olhar retrospectivo sobre os últimos anos, com três dimensões. Uma que está relacionada com a crise da Europa e as respostas à crise na Europa; outra sobre o impacto da crise nas instituições do regime - nos partidos, nos sindicatos, na Justiça -, e uma terceira parte sobre as políticas públicas em Portugal.
E o que temos de fazer...
A primeira coisa que temos de fazer é exactamente olhar para aquilo que aconteceu. E olhar tentando perceber as razões do nosso falhanço. Porque, de facto, estamos sobre auxílio financeiro e, de certa forma, sobre tutela política de uma 'troika'. O que nos é dito, muitas vezes, é que o nosso falhanço resulta de Governos irresponsáveis ou de uma zona euro que tem uma arquitectura que dá incentivos errados e perversos e que não nos permite crescer. Isso é parcialmente verdade. Mas eu diria que há outra coisa que temos de aprender e que está relacionada com o padrão das nossas políticas públicas que nos caracterizou nos últimos anos e que, de algum modo, explica o nosso fracasso.
E qual é?
Distingo três características das políticas públicas, que são negativas e que estão presentes em Portugal e que são um factor que explica a nossa situação. Excesso de volatilidade, excesso de mudança e instabilidade. As políticas públicas em Portugal mudam muito e mudam demasiado. E mudam de cada vez que muda o Governo e mudam mesmo dentro do mesmo Governo, desde que mude o ministro ou o secretário de Estado. E isso não é bom. As boas políticas públicas precisam de tempo e de estabilização.
O segundo?
O segundo está relacionado com a institucionalização. Precisamos de institucionalizar os processos de escolha e de definição das políticas. Há um excesso de volatilidade em Portugal que faz com que nunca saibamos muito bem o que é que cada autor relevante pensa sobre o cada assuntos. Há aqui uma enorme confusão de indefinição de papéis e processos. E finalmente necessitamos de ter uma cultura de negociação. Que é muito diferente da negociação a que estamos habituados em Portugal. E isso é independente das escolhas políticas serem de esquerda ou de direita.
Sobre o futuro de Portugal?
O futuro de Portugal passa por uma mudança da política interna que nos permita fazer duas coisas, sem as quais não vamos conseguir crescer economicamente e não teremos condições para continuar no euro. Estamos a ser empurrados para fora do euro e temos de fazer, com alguma urgência, duas coisas.
Quais são?
Uma é reestruturar a dívida, outra é pressionar e criar uma coligação política para alterar as condições da nossa participação no euro e na Europa. Esses dois objectivos encontram, curiosamente, um consenso político muito alargado na sociedade. Só que esse consenso não encontra correspondência no espaço governamental e no espaço que tem hoje responsabilidades políticas. Precisamos desse consenso para renegociar a restruturação da dívida.
Livros&Ecolemomanias Tendência irresistível para vaguear
Esta semana o grande destaque editorial recai sobre os programas de intercâmbio cultural e literário entre países. Começa hoje e decorre até ao próximo domingo o festival "Afinidades Electivas", que tem como objectivo reunir culturas (e literaturas) de três países: Portugal, Alemanha e Áustria. Marcam presença neste festival nomes sonantes da literatura destes três países. (Mais informações e entrevista ao director do Goethe Institut no blog deste espaço). E se as escritas alemãs estão por cá, as americanas também. Dia 2 de Julho Gonçalo M. Tavares e Philip Graham farão a apresentação das suas obras e dos seus títulos mais emblemáticos na terceira edição do Programa Literário Internacional - DISQUIET, na FLAD.
Como nota de rodapé: fique a par das novidades e dos lançamentos editorais da semana na Agenda deste blog, que é actualizada diariamente.
E Agora?
A crise do euro, as falsas reformas e o futuro de Portugal Autor: Pedro Adão e Silva Clube do Autor 212 pág. | 13,50 euros
Prefácio de Jorge Sampaio
"Adão e Silva é um sociólogo de mérito que, implacável e serenamente, examina as razões da crise, percorre o denso e acidentado percurso da nossa sociedade, das nossas insuficiências, da história europeia e dos dilemas decorrentes da construção europeia, para terminar com uma larga visão de um futuro de esperança e exigência, quer num combate a um certo facilitismo reinante, quer na crítica certeira a uma agenda ideológica militante que enquadra os programas de assistência financeira e o actual quadro europeu".