"A crise pode ser uma oportunidade para motivar e liderar"
O 'coach' Rui Lança defende que as equipas de elevado desempenho produzem resultados excepcionais - algo que conduz à vitória. Quanto à crise, essa trouxe a constatação de que quem vence, fá-lo mais em equipa do que de forma individual, mesmo sem perder o talento.
Quem não sonha em ter um chefe que o motive? Qual é o chefe que não quer produzir bons resultados? "Todos" parece ser a resposta óbvia. Porém, entre o sonho e a realidade, por vezes, vai uma longa distância - quilómetros que podem ser aniquilados se a formação de equipas de elevado desempenho for uma prioridade para a organização, defende Rui Lança, 'coach' e autor de "Como formar equipas de elevado desempenho". Em entrevista ao 'Ideias em Estante' (programa do Etv), Rui Lança explica a importância da motivação e das boas chefias. Conheça algumas das suas ideias-chave sobre o tema.
Como se criam equipas de elevado desempenho?
A formação de qualquer equipa passa por diversas fases. Mais do que isso, o que distingue a criação de uma e outra equipa é o tempo que se precisa para formar, que níveis de maturidade colectiva se atingem e qual a identidade que se consegue. Mas esta não é uma ciência exacta, está dependente da capacidade de perceber e dominar um conjunto de situações. As equipas de elevado desempenho conseguem ter um foco muito bem definido. Um equilíbrio de grande exigência quer ao nível comportamental e de identidade, quer em termos de competências para as tarefas em que essa equipa trabalha. Conseguem atingir essas equipas quando as pessoas atingem uma autonomia de trabalho e de saber-agir, porque possuem um desejo enorme de querer ser sempre melhores e estas equipas são geralmente lideradas por alguém muito 'coach', situacional e flexível.
Quais as maiores barreiras à criação dessas equipas?
Destacaria dois pontos: estas equipas 'exigem' um conjunto de competências comportamentais que não são muito fáceis de achar nas pessoas. Os elementos destas equipas têm uma grande capacidade de comunicar de forma eficiente uns com os outros, têm constantemente uma predisposição para se ajudarem uns aos outros e isto implica cooperação. A sua visão colectiva é acima da média, ou seja, percebem a importância do colectivo para atingirem o êxito, os objectivos e estão mais comprometidos com isso do que as outras equipas. A outra barreira está mais relacionada com a capacidade de saber coabitar e gerir diversas pessoas diferentes com objectivos e formas de motivação distintas, por exemplo. Especialmente quando elas, tecnicamente, apresentam qualidade e não entendem a cedência a vários níveis que têm de optar em prol da equipa.
Em períodos de crise é mais difícil formar boas equipas?
Os períodos de crise podem ser a tal oportunidade se existirem os recursos necessários para cativar, motivar, liderar e direcionar as pessoas. Pode ser utilizada a tal superação! Mas os tempos de crise valorizam as equipas que têm os seus processos de saber-estar mais sustentáveis. Considero que a crise de valores sociais e hábitos de saber cooperar com alguém são mais profundos e negativos que a crise financeira. A crise trouxe a este nível uma grande vantagem: a constatação de que quem vence, fá-lo mais em equipa do que de forma talentosa, mas individual.
Qual a importância de um bom líder?
O líder é parte do processo para conseguir bons resultados em equipa. Depende do contexto, mas o líder tem uma grande importância e responsabilidade nas pessoas que lidera e tem actualmente um grande desafio que é a necessidade premente de formar outros líderes. Hoje também se cobra mais ao líder… a exigência torna este processo de líder/liderado muito mais interessante!
O que define um bom líder ?
Dos vários estilos que geralmente são referenciados e estudados, considero que não existe um melhor que outro. Penso que, perante os diferentes contextos e objectivos, existem estilos mais apropriados que outros. Os que estão normalmente à frente deste tipo de equipas são líderes que incluem muito as pessoas no processo e nas metas, conseguem gerar muito compromisso com o todo, ou seja, as pessoas, o grupo e os objectivos. Têm um grande impacto comunicacional com a sua equipa, seja de que forma for, consegue ser empático e consegue ir formando a vários níveis as pessoas e ser flexível.
Que conselhos dá a quem quer formar uma equipa?
Para formar uma equipa há que ter primeiro uma razão para que ela exista e se forme. Pode parecer redutor, mas as equipas precisam de orientação e direcção. E esta orientação é alimentada por várias peças: liderança, motivação, objectivos individuais e colectivos, sentido de existência por exemplo. A partir do momento em que se sabe para que existe a equipa e o que se pretende executar e conquistar, é preciso encaixar uma série de factores: quem vai liderar, que valores de saber-agir se pretendem nas pessoas que queremos colocar dentro da equipa, que recursos existem e temporizar tudo. É fundamental. capacidade de impacto comunicacional é muitas vezes transmitido. Conseguir penetrar nas pessoas, saber como as motivar, mover, liderar, exigir, alinhar, etc. É um processo mesmo muito interessante.
"Toda a minha vida, tudo o que fiz, tudo o que escrevi e escreverei, está marcado pelo sonho e o desejo que me transmitiu esse pássaro louco que dá corda ao mundo", escreve o chileno Luis Sepúlveda, autor de uma vasta obra e senhor de uma voz "que não se cala". Ou, dito de outra forma, "que não se conforma". Sempre atento "às injustiças", Sepúlveda "grita" nesta obra. Um desabafo que transmite revolta face à actual crise. Ao longo de 122 páginas, o chileno não se esconde e fala sobre si e sobre os seus. Da família aos amigos, uma distinta lista onde José Saramago, Tonino Guerra e Pablo de Neruda são mencionados.
"Palavras em tempos de crise", de Luis Sepúlveda (tradução de Henrique Tavares e Castro), Porto Editora, 122 páginas, 13,30¤
Rui Lança reúne experiências e testemunhos em livro
'Coach' e formador, o autor de "Como formar equipas de elevado desempenho" junta os casos e testemunhos do seleccionador nacional de futebol, Paulo Bento, da maestrina e directora musical da Orquestra Sinfónica de Berkeley, Joana Carneiro, do director da rádio TSF, Paulo Baldaia, da directora de RH da Accenture Portugal e Angola, Fernanda Barata de Carvalho, do ex-Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Rui Vilar, e ainda do empresário Rui Nabeiro, entre outros.
Emissão da "Ideias em Estante" às terças-feiras, às 14h45; com repetição às 23h45. Sábados às 16h45; e Domingos, às 19h30
"Como formar equipas de elevado desempenho"
por Rui Lança (Escolar Editora) 196 páginas 13,50 euros